quinta-feira, junho 20, 2002



ouve-me

que o dia te seja limpo e

a cada esquina de luz possas recolher

alimento suficiente para a tua morte




vai até onde ninguém te possa falar

ou reconhecer -- vai por esse campo

de crateras extintas -- vai por essa porta

de água tão vasta quanto a noite




deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te

e as loucas aveias que o ácido enferrujou

erguerem-se na vertigem do voo -- deixa

que o outono traga os pássaros e as abelhas

para pernoitarem na doçura

do teu breve coração -- ouve-me




que o dia te seja limpo

e para lá da pele constrói o arco de sal

a morada eterna -- o mar por onde fugirá

o etéreo visitante desta noite




não esqueças o navio carregado de lumes

de desejos em poeira -- não esqueças o ouro

o marfim -- os sessenta comprimidos letais

ao pequeno-almoço



Al Berto



salamandrine 14:11



This page is powered by Blogger. Isn't yours?